18 de setembro de 2007

Os ‘supérfluos’ de R$ 17 bilhões

Trinta e duas empresas do setor e mais um varejo forte em Ribeirão Preto

No mundo da ciência, a cosmetologia é como a mulher bonita. Podem chamá-la de fútil, mas a verdade é que ela exerce enorme fascínio. É ela quem desenvolve as fórmulas de beleza que fazem as pessoas se sentirem mais belas. É ela quem está na base de um setor que movimentou no ano passado R$ 17,5 bilhões, isso só no Brasil.
O interesse público na ciência do glamour, que muitos consideram supérflua, ficou claro no começo deste mês, em Ribeirão, quando aconteceu o 6º Congresso de Ciências Farmacêuticas. Na programação, palestras e debates sobre variados temas. Mas a mídia foi particularmente atraída pelos eventos ligados à ciência dos cosméticos. Dividida entre o evento ribeirão-pretano e um congresso em São Paulo, a professora de tecnologia cosmética Patrícia Maia Campos, da Farmácia da USP-RP, fala sobre as particularidades do métier:“Ainda existe muito preconceito em relação à cosmetologia como ciência e ao setor de maneira geral, porque muitos acham que a cosmética não é tão relevante. Por outro lado, ela está atrelada à qualidade de vida e ao bem-estar das pessoas, portanto também tem a ver com saúde”.
Que tem, ninguém discute. Nem só de batom e rímel vive a indústria. Do setor também fazem parte produtos como fraldas descartáveis e protetores solares. O núcleo de cosmetologia da USP-RP, a propósito, desenvolveu e patenteou recentemente uma fórmula de filtro solar. O laboratório onde foram feitas as análises, segundo Patrícia, é o mais bem equipado do país dentro de uma universidade.
Indústria local - Ribeirão Preto
A região de Ribeirão Preto é um importante centro de produção de cosméticos. Há lá 32 empresas do setor com autorização de funcionamento concedida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).Em Jardinópolis, foi montado recentemente o Pólo de Cosméticos da Região de Ribeirão Preto, que já conta com uma dúzia de empresas associadas, cinco delas instaladas no próprio município. A idéia do pólo é funcionar no esquema de cooperativa e conseguir preços melhores de matéria-prima, por exemplo.
Uma das empresas instaladas em Jardinópolis é a Gota D’Álho, que atua na linha de produtos para cabelo. Aos 25 anos, Rodrigo Roberto Bido, o dono da empresa, embarcou há apenas dois anos nesta “aventura”, como ele diz, apostando na crescente indústria da beleza.“O mercado vem crescendo bem. Hoje em dia a vaidade das mulheres é grande”, diz Bido. Sua pequena fábrica produz 20 mil frascos de xampu por mês.
Os produtos, de linha popular, saem do pólo de Jardinópolis para abastecer as lojas da região, mas a idéia é um dia fornecê-los a todo país.Não há estudo que reúna dados específicos da região, mas o panorama nacional mostra que a aventura de Bido pode dar muito certo.
Uma década atrás, o mercado brasileiro movimentava R$ 4,9 bilhões. Comparando com o volume do ano passado (R$ 17,5 bilhões), o crescimento foi de 357%. O país é hoje o terceiro maior consumidor de cosméticos, atrás de EUA e Japão. Mas a taxa de crescimento local é muito maior.
Público masculino aumenta
Carlos de Oliveira tem 51 anos e já se aposentou. Não tem luxos, se veste com simplicidade e usa boné velho na cabeça. Que ninguém se engane, porém: ele tem suas vaidades.Oliveira é de Minas e veio fazer compras em Ribeirão. Entrou numa das lojas populares de cosméticos no Centro de Ribeirão atrás da tintura HF65, que promete “devolver aos cabelos a cor natutal”. “A gente tem que dar um jeito de ficar mais bonito”, disse, com o boné enterrado na cabeça para esconder os fios grisalhos.O aposentado é retrato do crescimento da participação masculina no mercado.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), há cinco anos apenas um em cada 100 homens comprava cosméticos. Hoje são 15.
Avistar um senhor fuçando a prateleira de hidratantes já não é novidade, mas as mulheres ainda são a grande maioria, mesmo que também comprem para seus maridos.A professora Margarete Torraca, na sexta-feira passada, fazia compras para toda a família no Centro de Ribeirão: batom para a filha, creme de barbear para o marido e sabonete contra acne para o filho. “Acho que os cosméticos são importantes. As pessoas têm que se sentir bem consigo mesmas”, dizia ela, levando para si as tinturas para o cabelo.
Por: Matheus Urenha/Adriano Quadrado

Nenhum comentário:

 
BlogBlogs.Com.Br
Google